O sítio arqueológico descoberto durante as obras
para a instalação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no centro do Rio pode
incluir uma loja do século 19 onde eram anunciados para venda negros
escravizados. As escavações chegaram a alicerces de um estabelecimento que pode
ter servido para a negociação de escravos, informou à concessionária que
administra o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Os achados foram na Avenida Marechal Floriano, no
centro antigo da capital fluminense, no escopo das obras da linha 3 do VLT,
entre a Central do Brasil e o Aeroporto Santos Dumont. A área era, no século
19, uma chácara.
A suposição é que a loja fosse um armazém,
posteriormente substituído por um ponto de comercialização de negros africanos
escravizados e de seus filhos, transformados em mercadorias. O espaço -
"uma estrutura circular, construída com blocos de rochas, semelhante a um
poço colonial", conforme descrição dos responsáveis pelo VLT - deve ter
funcionado entre as décadas de 1860 e 1870, segundo acreditam os especialistas.
Eles se baseiam em anúncios do Jornal do Comércio da época, pesquisados nos
arquivos existentes atualmente na Biblioteca Nacional, e em mapas da região.
Arqueólogos descobriram também uma bola de ferro
que seria usada nas pernas para impedir a fuga de escravos. A coleta está sendo
feita no local há um mês, mediante cruzamento com o traçado antigo das ruas da
área. O trabalho é supervisionado por especialistas do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As descobertas ocorreram por meio de
participação do Iphan em processos de licenciamento ambiental relacionados às
obras do VLT.
Em uma cidade que viveu obras constantes para os grandes eventos dos
últimos anos, fazia tempo que um canteiro no centro da cidade não chamava tanta
atenção. A descoberta de 15 ossadas humanas no percurso da nova linha do
veículo leve sobre trilhos (VLT) do Rio de Janeiro concentrou
curiosos na Avenida Marechal Floriano, enquanto arqueólogos meticulosamente
tomavam notas e trabalhavam na coleta de informações para a retirada de parte
dos restos mortais. Os corpos encontrados foram deixados para trás quando a Igreja de São
Joaquim foi destruída em 1904, em meio às reformas urbanas do prefeito
Francisco Pereira Passos. Construído em estilo barroco, o templo seguia a
tradição católica da época de sepultar fiéis abastados no interior de sua
estrutura, o que faz com que os pesquisadores acreditem que os corpos sejam de
membros da elite carioca de outras épocas.
Três dos 15 esqueletos já foram retirados pela empresa Artefato
Patrimônio Arqueológico, contratada pela concessionária VLT Carioca para cuidar
de todo o material de importância histórica que se esperava encontrar no
caminho dos bondes. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) acompanha o trabalho e determinou que o destino final dos corpos será a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Coordenadora da pesquisa arqueológica, Madu Gaspar contou que a as
ossadas precisarão ser levadas para um local onde possam secar lentamente,
porque o solo do Rio de Janeiro é repleto de umidade, o que
atrapalhará a conservação.
“O Rio tem uma história antiga. Se for aberta qualquer via, aparecerão
indícios e testemunhas das antigas ocupações. Não só as coloniais, como as
pré-coloniais, antes da invasão europeia”, disse ela, explicando que o trabalho
não é apenas retirar os restos mortais das covas. “É um trabalho muito lento.
Os ossos são frágeis e têm que ser trabalhados com muito cuidado. É preciso
fazer um bom registro, com desenhos, fotografias e tomadas topográficas para
que possamos juntos reconstruir essa história”.
O arquiteto do Iphan Paulo Vidal destacou ainda que a igreja demolida
tem sua história intimamente ligada à do Colégio Pedro II, que fica ao lado das
escavações. Pesquisadores relacionam a fundação do colégio à estrutura do
Seminário de São Joaquim. Quando o império inaugurou o colégio, em 1837, foi
rezada uma missa com a presença da família real, e Pedro II, na época com 12
anos, era um dos presentes.
“Houve uma missa, como era de praxe, e provavelmente a missa foi aqui na
Igreja de São Joaquim. A igreja tem uma série de histórias para ser contada a
partir desses achados”, disse Paulo.
Cemitério de escravos
Para preservar ao máximo a história no trajeto do VLT, o Iphan vem
recomendando cuidados como lajes menos profundas para os trilhos e pequenos
desvios. Além da Igreja de São Joaquim, foi localizada uma parte do passado escravagista do Brasil no
caminho do VLT. No Largo de Santa Rita, a metros de distância, foi encontrado
um cemitério para pessoas traficadas da África para trabalhos forçados no país.
No caso desse cemitério, Paulo conta que a opção foi manter os corpos no
local e não fazer intervenções. Além disso, será sinalizada a presença do
cemitério por uma questão de respeito à memória e conscientização. “Lá há uma
questão diferente porque temos uma comissão onde os representantes de entidades
de matriz africana participam e decidimos que vamos mexer o mínimo possível no
cemitério. Há uma questão do respeito à ancestralidade que é inerente à cultura
africana”.
Estudos indicam que os africanos mortos nos tumbeiros ou ao chegarem ao
Rio eram enterrados em frente à Igreja de Santa Rita, atual Largo de Santa
Rita, entre 1722 e 1769. O local ficava perto do mercado de escravos da Praça
XV e distante do Largo da Carioca, onde ficava a nobreza. Os corpos teriam sido
descartados em covas rasas, muitos, cobertos de doenças, como as bexigas de
varíola, provocadas pelas péssimas condições do translado.Em
uma cidade que viveu obras constantes para os grandes eventos dos últimos anos,
fazia tempo que um canteiro no centro da cidade não chamava tanta atenção. A
descoberta de 15 ossadas humanas no percurso da nova linha do veículo leve
sobre trilhos (VLT) do Rio de Janeiro concentrou curiosos na Avenida
Marechal Floriano, enquanto arqueólogos meticulosamente tomavam notas e
trabalhavam na coleta de informações para a retirada de parte dos restos
mortais.
Os
corpos encontrados foram deixados para trás quando a Igreja de São Joaquim foi
destruída em 1904, em meio às reformas urbanas do prefeito Francisco Pereira
Passos. Construído em estilo barroco, o templo seguia a tradição católica da
época de sepultar fiéis abastados no interior de sua estrutura, o que faz com
que os pesquisadores acreditem que os corpos sejam de membros da elite carioca
de outras épocas.
Três
dos 15 esqueletos já foram retirados pela empresa Artefato Patrimônio
Arqueológico, contratada pela concessionária VLT Carioca para cuidar de todo o
material de importância histórica que se esperava encontrar no caminho dos
bondes. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
acompanha o trabalho e determinou que o destino final dos corpos será a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Coordenadora
da pesquisa arqueológica, Madu Gaspar contou que a as ossadas precisarão ser
levadas para um local onde possam secar lentamente, porque o solo do
Rio de Janeiro é repleto de umidade, o que atrapalhará a conservação.
“O
Rio tem uma história antiga. Se for aberta qualquer via, aparecerão indícios e
testemunhas das antigas ocupações. Não só as coloniais, como as pré-coloniais,
antes da invasão europeia”, disse ela, explicando que o trabalho não é apenas
retirar os restos mortais das covas. “É um trabalho muito lento. Os ossos são
frágeis e têm que ser trabalhados com muito cuidado. É preciso fazer um bom
registro, com desenhos, fotografias e tomadas topográficas para que possamos
juntos reconstruir essa história”.
O
arquiteto do Iphan Paulo Vidal destacou ainda que a igreja demolida tem sua
história intimamente ligada à do Colégio Pedro II, que fica ao lado das
escavações. Pesquisadores relacionam a fundação do colégio à estrutura do
Seminário de São Joaquim. Quando o império inaugurou o colégio, em 1837, foi
rezada uma missa com a presença da família real, e Pedro II, na época com 12
anos, era um dos presentes.
“Houve
uma missa, como era de praxe, e provavelmente a missa foi aqui na Igreja de São
Joaquim. A igreja tem uma série de histórias para ser contada a partir desses
achados”, disse Paulo.
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