A Chacrinha dos Pretos – assim é conhecida a comunidade
remanescente de um quilombo de escravos, formado no local por volta do séc.
XVII e XVIII. Conhecida pela rica tradição cultural de danças e cantos entoados
pelas mulheres que ali residem, bem como pelas ruínas da casa grande onde
residia a família do Barão José de Paula Peixoto, de origem portuguesa, a
Chacrinha possui na atualidade inúmeros traços que remontam ao Ciclo do Ouro em
Minas Gerais (1650 – 1750), período fundamental da formação do território da
província Mineira. Reconhecida pela Fundação Palmares como uma Comunidade de
Quilombos, a Comunidade Chacrinha dos Pretos está localizada há aproximadamente
8 Km da cidade de Belo Vale \ M.G. e
durante muitos anos seus moradores lutam para ter seus direitos reconhecidos e
consequentemente receber investimentos em infra-estrutura, cultura, educação,
esporte e lazer.
Segundo
relatos correntes, a fazenda onde se situa a localidade foi construída pelo
“Barão do Milhão e Meio” - rico português denominado José de Paula
Peixoto - que explorava ouro no rio Paraopeba. Peixoto teria
construído a antiga sede da Fazenda da Chácara, possivelmente no século XVIII. Esse
rico fazendeiro teria vivido com uma de suas escravas para quem deixou a
propriedade rural. A escrava herdeira alforriou todos os escravos em época
incerta e esses viveram isolados ao redor da fazenda até a chegada da Estrada
de Ferro. Teria sido visitada por D. Pedro I em março
de 1822, quando recebeu da viúva do ditoso fazendeiro, uma doação de cinqüenta contos
de réis para a causa da Independência do Brasil. Não há nenhuma evidência
concreta quanto a estes fatos, mas se tal fazenda realmente existiu por volta
da proclamação da Independência, dificilmente um quilombo nas mesmas imediações
se manteria seguro, com as características próprias deste tipo de comunidade, o
que seria historicamente contraditório.
A
Ferrovia dividiu a propriedade em duas áreas distintas, sendo uma delas
habitada pelos herdeiros desses escravos. Outra versão informa que foi a esposa
do Barão que deixou a fazenda para os escravos. Os arquitetos Celina Lemos e
José Paiva relata que, a referida esposa do Barão teria passado a dar refúgio
aos escravos fugidos.
Segundo a
Revista Alterosa datada de 1941, José de Paula Peixoto “alcunhado de Milhão e
Meio, dada a sua fabulosa fortuna,” era tido como provável construtor da
Fazenda Boa Esperança. Importante salientar que uma pedra que hoje compõe
os alicerces de uma edificação dentro das ruínas possui gravada em relevo a
data de 1752 e uma misteriosa abreviatura “MD” que antecede a data.
Maria
Clareth Reis informa que a data parece indicar a antiguidade da construção da
ermida que existia ou da própria sede da fazenda. O Sr. Antônio Rezende
informou ainda que as estruturas existentes fossem o porão ou pavimento
inferior da casa sede. Conforme relatos dos moradores, o Barão José de Paula
Peixoto desenvolvia em sua fazenda tanto atividades de mineração como de
agricultura de subsistência, possuindo mil e duzentos (1.200) escravos.
Tendo
como referência as ruínas do que seria uma capela nas estruturas da fazenda, os
pesquisadores do projeto da UFMG levantaram a hipótese de que poderia tratar-se
de uma ermida vinculada à Capela Santa Cruz do Salto citada
por D. Frei José da Santíssima Trindade em sua visitação realizada em 1825.
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