Origem da ocupação:
A Serra
da Moeda, cadeia de montanhas localizada no complexo da Serra do Espinhaço,
possui uma extensão que abrange oito municípios mineiros, a saber: Brumadinho,
Moeda, Belo Vale, Jeceaba, Congonhas, Itabirito, Rio Acima e Nova Lima. Foi em
razão da fartura de metais preciosos que se deu a ocupação portuguesa nas
terras de Minas Gerais e é nesse contexto que começa a história da Serra da
Moeda que tentaremos descrever. Sabe-se que antes da colonização do
Brasil pelos portugueses, essa região já era habitada por tribos indígenas de
diferentes etnias que pertenciam, com raras exceções, aos grandes grupos Gê e
Tapuia.
Já a
ocupação portuguesa no território que hoje se conhece por Serra da Moeda deu-se
pela descoberta de ouro e metais valiosos já em fins do século XVII. Em junho
de 1674, saiu de São Paulo rumo ao território de Minas Gerais, a expedição
liderada pelo sertanista Fernão Dias Paes com o objetivo de encontrar
esmeraldas e de ocupar o território por ele percorrido. Foi a partir da
exploração de Fernão Dias que se deu o efetivo povoamento da região que
posteriormente deram origem aos primeiros núcleos populacionais.
Serra da
Moeda - topônimo:
No
contexto da colonização portuguesa na Capitania de Minas Gerais, os lucros da
Coroa advinham, inicialmente, da cobrança de impostos daqueles que descobriam e
exploravam minerais preciosos. Assim, no ano de 1700, já se cobravam os quintos
sobre o ouro produzido. A política tributária de Portugal causou a revolta de
diversos setores da sociedade principalmente porque os impostos cobrados não
representavam nenhum benefício para a região. A sonegação passou a ser uma
prática constante.
Em 1719,
foi instituída a nova lei do quinto que determinava a instalação de Casas de
Fundição nas Minas Gerais e proibia a circulação de ouro em pó, que era
facilmente contrabandeado. Nas Casas de Fundição o ouro seria fundido,
transformado em barras, cunhado com o selo real e deduzido a quinta parte
correspondente ao imposto. O ouro só poderia circular após passar por todo
aquele processo fiscal. A Serra da Moeda é palco de um curioso episódio
relacionado a esse sentimento de rigor tributário em contraponto com a
sonegação, que é a instalação de uma casa clandestina de fundição de moedas (ou
lingotes circulares de ouro), por volta dos anos de 1720, também chamada de
“Fábrica de Moedas falsas” que faria o mesmo papel das casas oficiais,
contudo a custo menor.
Os cunhos
haviam sido roubados de outras casas de fundição e a moeda ali produzida foi
chamada de falsa pelo fato de que o ouro não era fundido ou “quintado” nas
Casas de Fundição Reais. A Casa possuía um grande aparato bélico e os vizinhos
eram proibidos de entrar, excetuando-se os domingos, quando eram convidados a
assistir a missa, depois de maquiadas as atividades clandestinas, para que não
houvesse desconfiança.
Explica a
historiadora Luana Martins, através de informação retirada da Revista do Arquivo
Público Mineiro, que o trecho mais próximo àquela antiga Fábrica foi chamado de
"Fortaleza", pois, segundo relatos, diante da aproximação dos
possíveis “clientes”, eram emitidos sinais com tiros de trabucos. Outro fato
interessante é um “Regulamento” criado por Ignácio Ferreira, líder do grupo,
que descreviam as atividades no cotidiano da casa de fundição e as severas
medidas disciplinares que eram impostas a quem ousasse desobedecer.
O
documento previa pena de morte para quem saísse das instalações da fábrica sem
o consentimento. O líder da Casa Clandestina era conhecido pelo “temperamento
draconiano”, o que ocasionou divergências entre os sócios causando a delação do
crime ao Ouvidor de Sabará. Em 1731, foi organizado um ataque à fazenda, tendo
sido destruída. A Serra do Paraopeba passou a ser designada de Serra da Moeda
em razão desse episódio. Um expressivo número de pessoas vieram à Minas Gerais
diante das notícias das ricas jazidas auríferas.
O
povoamento do município de Brumadinho se iniciou através do atual distrito
de Piedade do Paraopeba,
localizado há 35 quilômetros da capital mineira, ao pé da Serra da Moeda.
Existem indícios de que Piedade é mais antiga que Ouro Preto, Mariana e Sabará
e foi o terceiro povoado a ser fundado pela expedição de Fernão Dias Pais.
Atualmente
esse distrito engloba os povoados de Palhano, Córrego Ferreira, Piedade do
Paraopeba e os Condomínios Retiro do Chalé, Águas Claras, Jardins, Recanto da
Serra (todas essas comunidades estão ao lado da mina Serrinha). O distrito
também conta com importantes monumentos históricos, como a igreja matriz de
Nossa Senhora do Paraopeba e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Essa última
aberta somente nos dias de Festa da Santa, com direito a procissão, missa,
muita fé, boa comida e alegria.
Tornou-se
um local rico em destilarias. Possui uma série de nascentes e cachoeiras que
são apreciadas pelos turistas e praticantes de esportes, além de representar um
recurso essencial para a qualidade de vida da comunidade local. Vale ressaltar
que esse distrito vem sofrendo com os impactos de outros empreendimentos
minerais próximos, como o da mina Pau Branco, da V&M mineração, que tem
causado a redução da qualidade de vida da população local. O empreendimento da
mina Serrinha, localizada ao lado da mina Pau Branco, irá agravar ainda mais a
situação da comunidade.
Influências
do desenvolvimento econômico:
A região como um todo possuía uma significativa produção de alimentos que
abasteciam tanto os núcleos mineradores quanto outras localidades. Esta
atividade econômica deu origem às primeiras fazendas do entorno da Serra da
Moeda que influenciaram a instalação de outras unidades produtivas de porte
menor, além de templos religiosos destinados aos cultos comunitários, locais
que posteriormente acabaram se transformando em povoados, arraiais ou
distritos. No interior de Brumadinho há inúmeras fazendas voltadas, ainda
hoje, para agricultura de subsistência
ou familiar e para a produção em larga escala.
Esse
texto foi baseado em textos publicados por Luana Carla Martins, Elisa Vignolo
Silva, Carlos Magno Guimarães; relatório sobre a Serra da Moeda encomendado
pelo Cond. Retiro do Chalé; livro: Histórias e riquezas do município de
Brumadinho de Décio Lima Jardim e Márcio Cunha Jardim. Publicação da Prefeitura
Municipal de Brumadinho, 1982.
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