quinta-feira, 15 de novembro de 2018

EXPEDIÇÃO NA SERRA DA MOEDA EM MINAS GERAIS PARA CONHECER A HISTÓRIA DAS RUÍNAS ESCONDIDAS DO SÉCULO XVIII.



Origem da ocupação:

A Serra da Moeda, cadeia de montanhas localizada no complexo da Serra do Espinhaço, possui uma extensão que abrange oito municípios mineiros, a saber: Brumadinho, Moeda, Belo Vale, Jeceaba, Congonhas, Itabirito, Rio Acima e Nova Lima. Foi em razão da fartura de metais preciosos que se deu a ocupação portuguesa nas terras de Minas Gerais e é nesse contexto que começa a história da Serra da Moeda que  tentaremos descrever. Sabe-se que antes da colonização do Brasil pelos portugueses, essa região já era habitada por tribos indígenas de diferentes etnias que pertenciam, com raras exceções, aos grandes grupos Gê e Tapuia.




Já a ocupação portuguesa no território que hoje se conhece por Serra da Moeda deu-se pela descoberta de ouro e metais valiosos já em fins do século XVII. Em junho de 1674, saiu de São Paulo rumo ao território de Minas Gerais, a expedição liderada pelo sertanista Fernão Dias Paes com o objetivo de encontrar esmeraldas e de ocupar o território por ele percorrido. Foi a partir da exploração de Fernão Dias que se deu o efetivo povoamento da região que posteriormente deram origem aos primeiros núcleos populacionais.
  



Serra da Moeda - topônimo:

No contexto da colonização portuguesa na Capitania de Minas Gerais, os lucros da Coroa advinham, inicialmente, da cobrança de impostos daqueles que descobriam e exploravam minerais preciosos. Assim, no ano de 1700, já se cobravam os quintos sobre o ouro produzido. A política tributária de Portugal causou a revolta de diversos setores da sociedade principalmente porque os impostos cobrados não representavam nenhum benefício para a região. A sonegação passou a ser uma prática constante.

 




Em 1719, foi instituída a nova lei do quinto que determinava a instalação de Casas de Fundição nas Minas Gerais e  proibia a circulação de ouro em pó, que era facilmente contrabandeado. Nas Casas de Fundição o ouro seria fundido, transformado em barras, cunhado com o selo real e deduzido a quinta parte correspondente ao imposto. O ouro só poderia circular após passar por todo aquele processo fiscal. A Serra da Moeda é palco de um curioso episódio relacionado a esse sentimento de rigor tributário em contraponto com a sonegação, que é a instalação de uma casa clandestina de fundição de moedas (ou lingotes circulares de ouro), por volta dos anos de 1720, também chamada de “Fábrica de Moedas falsas” que faria o mesmo papel das casas oficiais, contudo a custo menor.




Os cunhos haviam sido roubados de outras casas de fundição e a moeda ali produzida foi chamada de falsa pelo fato de que o ouro não era fundido ou “quintado” nas Casas de Fundição Reais. A Casa possuía um grande aparato bélico e os vizinhos eram proibidos de entrar, excetuando-se os domingos, quando eram convidados a assistir a missa, depois de maquiadas as atividades clandestinas, para que não houvesse desconfiança.
  




Explica a historiadora Luana Martins, através de informação retirada da Revista do Arquivo Público Mineiro, que o trecho mais próximo àquela antiga Fábrica foi chamado de "Fortaleza", pois, segundo relatos, diante da aproximação dos possíveis “clientes”, eram emitidos sinais com tiros de trabucos. Outro fato interessante é um “Regulamento” criado por Ignácio Ferreira, líder do grupo, que descreviam as atividades no cotidiano da casa de fundição e as severas medidas disciplinares que eram impostas a quem ousasse desobedecer.





O documento previa pena de morte para quem saísse das instalações da fábrica sem o consentimento. O líder da Casa Clandestina era conhecido pelo “temperamento draconiano”, o que ocasionou divergências entre os sócios causando a delação do crime ao Ouvidor de Sabará. Em 1731, foi organizado um ataque à fazenda, tendo sido destruída. A Serra do Paraopeba passou a ser designada de Serra da Moeda em razão desse episódio. Um expressivo número de pessoas vieram à Minas Gerais diante das notícias das ricas jazidas auríferas.
  




O povoamento do município de Brumadinho se iniciou através do atual distrito de Piedade do Paraopeba, localizado há 35 quilômetros da capital mineira, ao pé da Serra da Moeda. Existem indícios de que Piedade é mais antiga que Ouro Preto, Mariana e Sabará e foi o terceiro povoado a ser fundado pela expedição de Fernão Dias Pais.






Atualmente esse distrito engloba os povoados de Palhano, Córrego Ferreira, Piedade do Paraopeba e os Condomínios Retiro do Chalé, Águas Claras, Jardins, Recanto da Serra (todas essas comunidades estão ao lado da mina Serrinha). O distrito também conta com importantes monumentos históricos, como a igreja matriz de Nossa Senhora do Paraopeba e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Essa última aberta somente nos dias de Festa da Santa, com direito a procissão, missa, muita fé, boa comida e alegria.
  


Tornou-se um local rico em destilarias. Possui uma série de nascentes e cachoeiras que são apreciadas pelos turistas e praticantes de esportes, além de representar um recurso essencial para a qualidade de vida da comunidade local. Vale ressaltar que esse distrito vem sofrendo com os impactos de outros empreendimentos minerais próximos, como o da mina Pau Branco, da V&M mineração, que tem causado a redução da qualidade de vida da população local. O empreendimento da mina Serrinha, localizada ao lado da mina Pau Branco, irá agravar ainda mais a situação da comunidade.


Influências do desenvolvimento econômico:

A região como um todo possuía uma significativa produção de alimentos que abasteciam tanto os núcleos mineradores quanto outras localidades. Esta atividade econômica deu origem às primeiras fazendas do entorno da Serra da Moeda que influenciaram a instalação de outras unidades produtivas de porte menor, além de templos religiosos destinados aos cultos comunitários, locais que posteriormente acabaram se transformando em povoados, arraiais ou distritos.  No interior de Brumadinho há inúmeras fazendas voltadas, ainda hoje, para agricultura de subsistência ou familiar e para a produção em larga escala.


Esse texto foi baseado em textos publicados por Luana Carla Martins, Elisa Vignolo Silva, Carlos Magno Guimarães; relatório sobre a Serra da Moeda encomendado pelo Cond. Retiro do Chalé; livro: Histórias e riquezas do município de Brumadinho de Décio Lima Jardim e Márcio Cunha Jardim. Publicação da Prefeitura Municipal de Brumadinho, 1982.

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