Um fabuloso
tesouro arqueológico descoberto em um barco que naufragou perto do litoral da
Indonésia há mil anos será leiloado na quarta-feira, em Jacarta, a um preço inicial
calculado em 80 milhões de dólares. Um total
de 271 mil peças, entre cerâmicas chinesas, espelhos com armação de bronze,
pérolas, rubis e safiras, compõe esse tesouro escondidos nas profundezas do
mar, um dos mais importantes descobertos na Ásia, segundo Luc Heymans, diretor
belga da sociedade de exploração submarina Cosmix. O tesouro foi descoberto em
2003, quando pescadores resgataram entre suas redes pedaços de porcelana frente
ao litoral de Cirebon, na ilha de Java.
Há pratos decorados, porcelanas translúcidas, espelhos de
bronze com as costas trabalhadas, um pequeno peixe em cristal de rocha,
minúsculos frascos de perfume, vidros coloridos da dinastia dos fatimidas, que
reinou a mil anos no Egito. A descrição seria interminável. O belga Luc Heymans,
um dos responsáveis do projeto diz que não exagera quando fala de "uma
carga absolutamente excepcional". Estão já inventariadas perto de 14 mil
pérolas e uma profusão de pedras preciosas que inclui, por exemplo, quatro mil
rubis e 400 safiras, diz Heyman. Sabe-se que as porcelanas "provêm de uma
fábrica muito especial, uma cerâmica imperial, talvez da província de Hebei, no
Norte da China", assinala o especialista alemão Peter Schwarz.
No plano histórico, o tesouro recuperado
testemunha o encontro entre o mundo islâmico, a China e a Indonésia,
arquipélago então dividido em reinos, incluindo um budista, o de Sriwijaya, em
Sumatra. Os trabalhos duraram 18 meses e tiveram um sobressalto em 6 de
Novembro do ano passado, quando um navio da Armada indonésia interrompeu os
trabalhos dos mergulhadores. A agência indonésia de proteção do patrimônio
submarino publicou então um comunicado onde afirmava: "Suspeita-se de que
estrangeiros ilegais trabalhem na recuperação de um tesouro". O imbróglio
foi resolvido após intrincadas negociações, e Heymans explica hoje o sucedido
como o resultado de "um ataque de uma sociedade concorrente".
Os restos do navio, cujo nome, porto de origem e causa do
desastre permanecem desconhecidos, se encontram a 55 metros de profundidade, o
que o salvou dos saqueadores desde seu naufrágio, na época das Cinco Dinastias
chinesas (907-960). "Os intercâmbios comerciais eram muito frequentes
entre o mundo árabe e a Ásia, e os portos de Java e Sumatra eram muito
frequentados", explicou Heymans. "Achamos que a bordo do barco se
encontrava um embaixador devido à importante quantidade de cerâmicas chinesas
encontradas", acrescentou.
Quando o tesouro foi
encontrado entre os restos do navio em 2004, foram necessários mais de 22 mil
mergulhos para que os mergulhadores belgas, australianos, indonésios,
britânicos e franceses resgatassem os valiosos objetos, testemunhas da chegada
do Islã ao sudeste asiático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário