Imagine se você encontra na praia uma pequena rocha
que caiu do céu e que pode valer até R$ 3,5 milhões. Sem contar os fragmentos,
espalhados pelas proximidades, e cujo grama é avaliado por especialistas em
aproximadamente US$ 10 mil (R$ 35,5 mil). É o que pode acontecer aos frequentadores
das badaladas praias de Angra dos Reis.
Batizado com um nome que faz referência à cidade —
Angrito — o objeto astronômico tem apenas 1,5 quilos e é o novo xodó dos
apaixonados por Astronomia. De cor violeta e crosta brilhante, é considerado um
dos mais valiosos do mundo, por ser tão antigo quanto o Sistema Solar e seus
4,5 bilhões de anos. O Angrito caiu, dividido em três partes, no mar, na
beira da Praia de Bonfim e na Baía da Ilha Grande, há 144 anos. Dois pedaços
estão desaparecidos e o terceiro, de 70 gramas, que vale em torno de R$ 1,6
milhão, foi doado ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde se encontra
guardado a sete chaves.
Este mês, no encerramento do IV Encontro
Internacional de Meteoritos e Vulcões, realizado pelo Instituto de Geologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os cerca de 90 participantes,
entre pesquisadores e estudantes de geologia e astronomia, promoveram uma
expedição à Praia do Bonfim. “A caça ao tesouro celeste (se referindo ao
Angrito), na verdade, é uma campanha pela Astronomia e sua importância para a
Humanidade. Mas vai que alguém o ache”, comenta a astrônoma e pesquisadora do
Museu Nacional Elizabeth Zucolotto. Desta vez, os “expedicionários celestes” não
encontraram nada em Angra, mas deixaram moradores e turistas eufóricos e
curiosos. “Agora presto mais atenção em pequenas rochas escuras. Pelo que vi,
encontrar um meteorito ou fragmento desse tipo seria melhor que ganhar na
Mega-Sena”, disse o pescador Paulo Silva, de 49 anos.
Angrito é o elo perdido na formação do sistema
solar.
No dia 30 de janeiro de 1869, a queda do Angrito,
em frente à Igreja do Bonfim, foi testemunhada por Joaquim Carlos Travassos —
médico, político e pioneiro do Espiritismo no Brasil — e dois de seus escravos.
Conta-se que os escravos conseguiram recuperar, duas partes, a dois metros de
profundidade. Uma se encontra atualmente no Museu Nacional. Ela foi doada pelo
juiz Ermelino Leão, que a tinha ganhado de Travassos. A outra, de 6 quilos, foi
dada pelo médico a um sogro seu, em 1888. Dela, ninguém sabe o paradeiro. A peça que está no museu chegou a ser roubada em
1997, mas acabou sendo recuperada das mãos de um pirata de meteoritos que
embarcava para os Estados Unidos.
“Pelo encaixe estudado dos dois pedaços
recuperados, há a certeza de que o terceiro ainda se encontra no mar”, afirma
Elizabeth Zucolotto. Ela explica que o Angrito está entre os dez mais raros do
mundo e deu nome a uma classe de meteoritos a qual até recentemente era o único
representante. “Por isso é um dos mais cobiçados entre pesquisadores e
colecionadores. É o primeiro que saiu do interior de um planeta. É o elo
perdido na formação do sistema solar.”
Média de três amostras por semana.
Desde que as caças a objetos extraterrestres
começaram a ser incentivadas no final da década passada, o Museu Nacional
passou a receber dez vezes mais amostras de rochas de todo o país para
análises.
“Recebo, em média, três por semana. Há uns cinco
anos, não passava de uma por mês. De cada mil rochas, uma é meteorito”, revela
Elizabeth Zucolotto. No Brasil, existem 63 meteoritos reconhecidos por
cientistas oficialmente. O último foi encontrado em Varre-Sai pelo agricultor
Germano Oliveira, 65 anos, em 2010. Ele vendeu a rocha (do tipo condrito, de
580 gramas e 11 centímetros) ao prefeito da cidade por R$ 18 mil. O estudante mineiro Higor Oliveira, 15 anos, foi um
dos destaques no último Encontro Internacional de Meteoritos. Criador do Blog
Explorando o Universo e do site meteoritosbrasil.weebly.com, ele se encantou
com o universo na Olimpíada Brasileira de Astronomia. “No futuro, vou ser
astrônomo para desvendar os meteoritos.”
Quem achar vira dono, e pode vender.
No Brasil, quem encontra um meteorito passa a ser
dono dele e pode vendê-lo a quem quiser, ao contrário de outros países, como os
Estados Unidos, onde a posse pertence ao dono das terras onde corpos
interplanetários caem. Segundo a astrônoma e pesquisadora do Museu Nacional
Elizabeth Zucolotto, as rochas encontradas não devem ser cortadas.
“Meteoritos são pedras atraídas por imãs, embora não
sejam magnéticos. São escuros apenas por fora, com uma fina película chamada de
crosta de fusão. Cientistas especializados é que avaliam o seu interior”,
explica.
São três tipos básicos — rochosos, metálicos e
mistos. “Por imagens, conseguimos descartar centenas”, garante Elizabeth,
orgulhosa por ter dado o veredicto final para 39 dos 63 meteoritos catalogados
no Brasil. No site www.meteoritos.com.br, Elizabeth recomenda
que quem desconfia ter achado um meteorito, deve mandar, primeiramente, fotos
das rochas para meteoritos@globo.com.
Fonte: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2013-11-23/pedaco-de-meteorito-perdido-em-angra-dos-reis-vale-r-35-milhoes.html
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