Entre os achados, há objetos
religiosos, louças portuguesas, cachimbos e sapato masculino, Ouro e joias. Em
nove meses de trabalho, o Instituto de Arqueologia
Brasileira recolheu 850 mil artefatos arqueológicos do período
colonial na zona portuária do Rio de Janeiro. As descobertas
devem-se às obras de revitalização do Porto Maravilha. Entre os
milhares de coisas, foram achados objetos religiosos, louças
portuguesas, cachimbos e um sapato masculino, que tinha um salto. Em
breve, os objetos serão expostos ao público no Laboratório Aberto
Urbano. Peças em
ouro, brincos, anéis danificados, louças, âncoras, canhões, restos de trapiches
e pedaços de ruas do século 19.
Estes são apenas alguns dos achados arqueológicos
descobertos embaixo das movimentadas ruas do Centro do Rio e que vieram à tona
com as obras de revitalização da Zona Portuária. Na Avenida Rio Branco, restos
de pedras que integravam o piso de ruas entre os séculos 18 e 19 são as mais
recentes peças encontradas pela equipe de arqueologia contratada pela Companhia
de Desenvolvimento Urbano da Região Portuária (Cdurp). Érica Gonzalez,
arqueóloga que comanda um time de mais de 70 profissionais envolvidos no
mapeamento e tratamento das peças, diz que, apesar de impressionante, as
descobertas já eram esperadas pelos especialistas.
Presidente da Cdurp, Alberto Silva explica que a orientação da
Prefeitura do Rio é que uma parte do material seja reaproveitada nas próprias
obras, desde que não haja comprometimento do cronograma. Os utensílios com
relevância histórica devem compor um acervo em um laboratório de arqueologia na
Gamboa, Zona Portuária, e outro na Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj).
“Parte do material relevante está sendo levado para um laboratório de
arqueologia da Uerj, outra a um galpão em Gamboa, onde também está sendo
construído outro laboratório arqueológico, e uma terceira parte armazenada em
um canteiro de obras da Porto Novo, perto da rodoviária”, disse.
Porto dos escravos
Para Alberto Silva, a região do antigo Cais do Valongo – porto por onde
passaram milhões de africanos que foram escravizados no período colonial no
Brasil até 1843 – representa uma das surpresas neste trabalho de escavação.
“A gente sabia que estava ali, mas não tinha certeza do estado de
preservação. No local há marcas de outras intervenções urbanas, feitas ao longo
das últimas décadas, outras obras que cortaram a região para a estrutura de
drenagem, água, gás e parte elétrica. Mas, o estado de conservação do cais foi
uma das únicas surpresas, sendo preservado como uma janela arqueológica”,
explicou.
A região do Cais do Valongo possui cerca de 350 metros de comprimento,
vai da Rua Coelho e Castro até a Rua Sacadura Cabral, e está disponível para
ser observado por quem passa (veja na foto). De acordo com Tânia Andrade
Lima, professora do Museu Nacional e responsável pelo trabalho arqueológico
nesta região, o auge das escavações ocorreu em 2012.
Nessa época, segundo ela, a equipe encontrou artefatos da cultura
africana como miçangas, amuletos, materiais usados em rituais religiosos, além
de anéis feitos de piaçava, feitos para dar proteção. Após o desembarque nesse
porto, tanto adultos como jovens viraram objeto de comercialização em armazéns
pouco distantes dali.
"O Cais do Valongo tem uma relevância enorme. Damos uma atenção
especial aos escravos, porque eles não tiveram a chance de relatar sua
história. Enquanto em outros lugares do mundo acham-se dezenas de objetos,
nesse local pudemos coletar mais de 2 mil. Um dossiê está sendo concluído para
ser entregue à Unesco para que o Cais do Valongo se torne Patrimônio da
Humanidade”, disse.
Museu virtual
Érica Gonzalez, que comanda a recuperação arqueológica na região da
Avenida Rio Branco e em trechos das obras do Porto Maravilha, disse que um dos
maiores legados desse trabalho é a criação de um museu virtual. Em um site na
internet, os curiosos podem ver uma recriação científica do ambiente urbano do
Rio em diferentes épocas da história, como nos séculos XVII, XVIII e XIX.
Segundo ela, um mapeamento arqueológico do subsolo de toda Zona
Portuária foi feito, com 90% de chances de acerto. Cada descoberta, como um
trecho de rua, por exemplo, serve de modelagem para recriar todo o ambiente
urbano da época em questão.
“Não é um trabalho artístico ou um desenho do que existiu. É uma
recriação científica. Nós fazemos um mapeamento com mais de 200 mapas
históricos vetorizados desde o século XVII até anteontem. Depois, fazemos uma
modelagem e um scanner a laser para inserir no programa. Tudo é impresso em uma
impressora 3D para recriar o ambiente original”, explicou.
Érica disse que o projeto, chamado de Museu Virtual, começará a ser
divulgado daqui a um ano, quando os primeiros resultados dessa maquete estarão
finalizados. O trabalho de arqueologia na Zona Portuária, segundo a
especialista, ainda deve durar dois anos, conforme o cronograma de obras.“O mais importante, do ponto de vista arqueológico, é contribuir com a
história e fazer com que as pessoas saibam o que existe por debaixo de onde
elas vivem.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário